Reconheço também - aqui me penitencio - e desculpem-me aqueles a quem estas linhas possam eventualmente atingir, somos, por vezes, os primeiros a criticar quem pretende fazer alguma coisa. Problema de mentalidade ou ressabiados por não termos sido nós a ter a ideia ou a actuar espontaneamente. Rotulamos, logo, esse alguém, como interesseiro ou então “vem para cá ganhar uma fortuna com isso, é por esse motivo que cá vem”. Somos tão pobres de espírito. Não interessa a cor política, clubista, religiosa ou o “raio que parta”; somos todos de e em prol de São Pedro e das suas gentes, ás quais também me orgulho de pertencer. Vamos mas é dar as mãos e esforçarmo-nos para fazer algo de útil sem querelas, invejas ou maledicências.
Pode parecer um lugar comum, mas é fundamental a participação de toda a sociedade. Além de gestores comprometidos com políticas públicas eficientes. Penso também que os idosos têm responsabilidade política sobre o destino da aldeia. Participar. Para isso, São Pedro precisa, por seu turno, de proporcionar um ambiente “urbano” favorável a essa participação da gente idosa. Como pertencer à aldeia, se as ruas por vezes são palco de verdadeiras corridas automóveis ou motorizadas? Se os mais novos não nos dignamos a levar-lhes a casa o saco de compras que por vezes lhes deve pesar uma tonelada? Se a educação na linguagem e nos modos, não é na maior parte das vezes a nossa prioridade? Certamente que ficar em casa pode ser mais seguro.
Temos uma grande dívida para com os idosos, sem dúvida. A responsabilidade pública sobre as suas condições de vida, ainda é muito pequena. Não temos grande tradição nem cultura, na atenção aos velhos. A família, a comunidade e a sociedade precisam de dignificar as pessoas idosas, assegurando a sua participação na comunidade, defendendo a sua liberdade, autonomia, bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. No contexto social temos várias formas agradáveis de viver esta fase da vida, participando de grupo de idosos, de dança, artesanato, realizando viagens, fazendo caminhadas, mantendo-se actualizado, frequentando cursos e, desta forma, preenchendo significativamente o nosso envelhecer.
E você, que se considera nessa fase da vida, não pense no número de anos que já viveu. Pense, isso sim, em como desfrutar com muita coragem, perseverança e fé os anos que tem pela frente, dedicando-se a algo que lhe interesse e orgulhando-se da sua idade, por mais avançada que seja. Tudo isso manterá o seu espírito alegre e juvenil. Enfrente, pois, o entardecer da vida com responsabilidade, alegria e muito amor. Esse entardecer não acaba numa noite fechada, mas num amanhecer cheio de esperança.
Há tempo para a mudança. Entre outras transformações da sociedade do mundo globalizado, o envelhecimento populacional é uma realidade.
Nota-se agora e tudo devido aos novos modos de vida que mais da metade da população mundial passou a morar em cidades. Pois é, trata-se da procura de novas oportunidades. Estudos da área indicam que para 2030, cerca de três em cada cinco pessoas viverão nas cidades.
Tudo isso é verdade. E os idosos pergunto eu? Os idosos já não querem o tricô, o croché e o chinelo. Querem participar activamente da vida da aldeia. Se não são convidados, farão por si só uma outra realidade, uma outra velhice.
A nós cabe-nos olhar para a pessoa idosa como um ser humano integral, valioso e amado por todos. Não podemos considerar apenas a sua força física, mental e a sua saúde. É preciso respeitar a personalidade formada, a riqueza da experiência acumulada. As pessoas idosas podem devolver-nos muitos valores perdidos pela sociedade de consumo e pela violência.
Ao próximo Poder Autárquico um pedido quero fazer: desejo, mais do que pretendo, uma aldeia para todas as idades. Longe de mim insinuar que o presente ou os anteriores, nada fizeram neste sentido, mas a todos nós compete fazer cada vez mais e melhor.
Na esperança de dias melhores, parabéns pelo dia internacional do idoso.
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